sábado, 24 de março de 2012

Somente na Lembrança - Contando detalhes que não foram escritos


Tenho está época da vida da Gi meio que esquecida no meu pensamento, não sei se é intencional, ou devido ao fato que foi uma época bem tumultuada em nossas vidas. Não foi somente pelo tipo da doença, mas pelo fato do tratamento ser tão distante da minha casa (400 km), por ser um tratamento longo (seis etapas a cada 21 dias, mas que fizeram que eu ficasse um ano fora de casa) por ter deixado as meninas sem a minha presença numa idade de tantas mudanças (Aline com 14 e a Carol com 12), enfim, as lembranças do que não escrevi estão bem escondidinhas, mas vou tentar me recordar um pouco de como foi os detalhes desta época.
Até não começar a quimio a Gi estava internada em um hospital particular, onde tínhamos um pouco mais de conforto (tipo um quarto só para nós, banheiro individual e eu sempre com ela),quando foi resolvido o protocolo que iria ser seguido para o tratamento, resolveram que deveríamos fazer o tratamento no HC, pois como a Gi já tinha sido transplantada lá, todos ficariam mais seguros quanto ao andamento do tratamento. Como o HC é um hospital público as coisas são muito mais difíceis. Primeiro o ambulatório das crianças é pequeno para tantos pacientes, a gente ainda tinha o privilégio de morar perto, mas tinha tantas crianças que moravam longe que pegavam até três ônibus para chegar que cortava o coração da gente. Eu tudo compreendia, mas a Gi não, para ela já era difícil o tratamento e ter que ir lá era pior ainda. Tínhamos que chegar cedo tipo 07h30min (alguns dias em jejum) passava pela coleta de sangue, depois pela primeira consulta, depois tinha que esperar o resultado do exame, e depois é que começa a quimio (isso era no primeiro dia da quimio). No dia que fazia a quimio na espinha, chegávamos cedo (em jejum) e ficava em jejum até depois do almoço porque a anestesista só vinha neste horário. Gente como era difícil estes dias, além das crianças já não estarem bem, ainda passavam a manhã toda sem comer e sem beber. As crianças menores choravam, as maiores compreendiam, e a Gi ficava agressiva comigo, ela achava que eu era a culpada de estar fazendo passar por tudo aquilo, principalmente por estar naquele lugar.
Como já contei, quando nós descobrimos a doença tivemos a graça de ter como médica a Dra. Ivy. Ela trabalhava tanto no hospital particular, como no HC, então além do Dr Cezar tínhamos ela para nos orientar e apoiar. Como a doutora Ivy era oncologista ela nos disse que não era para adiantar muitas coisas para a Gi, era para deixar acontecer, tipo não falar que o cabelo ia cair, pois de algumas crianças o cabelo não caia, não entrar em muitos detalhes sobre a doença, pois a Gi não tinha idade para entender, enfim conforme ia acontecendo era para ir explicando. Então quando a Gi quando perguntou o que estava fazendo naquele lugar em que todo mundo era careca, dissemos que ela estava com um Linfoma e era lá que tratava, perguntou se ia ficar careca dissemos que não sabíamos, ela guardava todas essas informações e aos poucos ia percebendo às vezes com aceitação outras com revolta toda aquela situação.
O que fazia a Gi mais sofrer era puncionar a veia, pois devido a tantas internações ela tinha pouco acesso. Foi quando disseram a nós que ela iria passar um cateter, eu fiquei sem saber como dizer a ela, então pedi para o Dr Cezar ir lá em casa conversar com ela, pois como ela tinha uma afinidade muito grande com ele, tudo que ele dizia ela aceitava (na maioria das vezes). Lembro que ele chegou e ficou com ela sozinha, depois de uma conversa em que ele explicou mais ou menos o que era ela virou para ele e disse: então vai ser uma veia fácil?. Assim o cateter pra ela se passou a chamar veia fácil, pois nunca perdia e pegava de primeira.
Quando a Gi ficou doente ela iria começar a fazer a 1º série, então conseguimos matricular ela no colégio Positivo ela frequentava as aulas durante os intervalos da quimio. Ela praticamente ia duas semanas e ficava duas semanas sem ir, como era bastante inteligente conseguia acompanhar normalmente, só não conseguiu fazer muitas amizades neste ano, ficava praticamente todo intervalo do recreio na biblioteca, lá se tornou o refúgio dela. Conforme seguia o tratamento ela ia ficando cada dia mais nervosa. Ela chegava a tomar (não me lembro bem) mais ou menos 60 MG de corticoide por dia na semana da quimio. Na semana em que tomava ela ficava muito nervosa, a medicação alterava todo o seu emocional. Primeiro acharam que ela ficava desse jeito por ser mimada, indicaram uma psicóloga que foi um anjo durante todo esse período e na verdade a maior parte era culpa realmente do corticoide, claro que a Gi tinha e tem até hoje um gênio forte, e eu ainda continuo pedindo a Deus que possa fazer com que ela consiga ter um emocional mais tranquilo, mas as marcas de tudo o que ela passou até hoje ainda está muito gravada em seu ser.
Mas, como continuo crendo muito em Deus, tenho certeza que um dia ela irá ser menos ansiosa para assim não sofrer tanto como ainda sofre perante certas situações, e como existem situações difíceis nesta vida. Hoje me sinto particularmente muito mal. Minha mãe que é minha companheira em todos os meus momentos foi operada, mas graças a Deus está bem. Estou também passando por um momento da minha vida que nunca imaginei que iria passar, mas como sei que Deus sempre olha por mim e pela minha família, tenho certeza que amanhã será um dia muito melhor.



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